segunda-feira, outubro 31, 2005

Aracnofóbicos não tentem isto em casa!

Ainda relacionado com o último artigo, como é possível não gostar desta criatura? Cortesia do Blog científico-político de PZ Myers.

Vampiro por afinidade

Eu considero-as criaturas adoráveis, mas muitas pessoas têm um medo irracional das aranhas, aquelas criaturas sorrateiras, por vezes peludas, com muitos olhos, grandes patas e um aspecto sinistro. O que essas pessoas não sabiam até agora é que algumas dessas aranhas têm um apetite voraz por sangue. [... ler mais]

Para dizer a verdade as aranhas não andam atrás das pessoas para lhes sugar o sangue, no fundo para elas o nosso sangue é uma espécie de condimento. Num artigo dos Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, Jackson e Colegas (ref 1) descrevem o comportamento predatório da aranha saltadora africana, Evarcha culicivora. Estas aranhas têm um saudável apetite pelos verdadeiros vampiros, os mosquitos, mas, quando presenteadas com um mosquito macho, que não suga sangue, um mosquito fêmea bem empaturrado com o sangue de uma qualquer vítima, e um mosquito fêmea alimentada com água açucarada, as aranhas preferiram de forma consistente as fêmeas repletas de sangue. Estas aranhas não têm um aparato bucal adequado a sugar sangue directamente dos seres humanos, mas para já o apetite está lá.

Referências:
(ref 1) Jackson RR, Nelson XJ, Sune GO (2005) A spider that feeds indirectly on vertebrate blood by choosing female mosquitoes as prey. Proc Natl Acad Sci U S A. 102(42):15155-60.

Créditos da imagem: R.R. Jackson, numa página de J.Prozynski

Mentira e Felicidade

Segundo parece o segredo para não cair em depressões é mentir o mais possível. Num artigo na Forbes online, intitulado "Lying is Good For You", Lacey Rose analisa os benefícios da mentira. Pelos vistos as pessoas mentem constantemente. O artigo cita um estudo de Robert Feldman, professor de psicologia na Universidade do Massachusetts em Amherst, que gravou secretamente conversas de alunos com estranhos. Ao visionarem as conversas os estudantes identificaram as vezes em que mentiram. Confessaram terem mentido em média 3 vezes a cada 10 minutos. O artigo tem algumas citações curiosas. Numa tradução livre: "tendemos a considerar as pessoas que dizem sempre a verdade como sendo ríspidas, antissociais e mesmo patológicas". E ainda: "há evidência científica que mostra que as pessoas depressivas são mais honestas que as não-depressivas. Quando as pessoas recuperam das depressões ficam menos honestas". Pelos vistos quando um colega nos pergunta se fez um bom trabalho, esse colega não quer uma resposta sincera, quer apenas reduzir a ansiedade. Alguém me devia ter explicado isso antes. Para finalizar mais uma citação: "O truque é que não chamamos a isso mentir, chamamos-lhe ter tacto ou ser sociável". Embora tudo isto pareça senso comum, é a tomar com um grão de sal. Não vou desatar a mentir por tudo e por nada, pelo menos até alguém me fornecer referências sobre estudos entre depressão e honestidade que mostrem que mentir melhora de facto a qualidade de vida.

Relâmpagos de trazer por casa

Aqui em Gaia as trovoadas ocorrem frequentemente, e já tive algum sustos, com relâmpagos a cairem a poucas dezenas de metros de mim. O fenómeno sempre me pareceu muito diferente das faíscas observadas nas descargas eléctricas que se veêm no dia-a-dia. Ora as coisas não são bem assim. [...ler mais]

Num artigo na Geophysical Research Letters (ref 1), Joseph Dwyer e colegas conseguiram reproduzir uma das principais características dos relâmpagos usando descargas eléctricas em laboratório. Durante uma trovoada a descarga eléctrica ioniza o ar e acelera os electrões a velocidades da ordem da velocidade da luz. Como consequência as trovoadas são acompanhadas da emissão de raios-X e mesmo raios-gama. Sempre se considerou que durante as descargas eléctricas normais não se conseguiam acelerar electrões a essas velocidades, mas pelos vistos estávamos enganados. Carregando um conjunto de condensadores a cerca de 100 mil volts cada um, e deixando-os descarregar entre duas esferas de metal afastadas 10 cm, Dwyer e colaboradores conseguiram medir raios-X emitidos pela faísca resultante.Os fluxos de raios-X produzidos são muito fracos, e nem todas as descargas eléctricas produzem raios-X, pelo que não vale a pena pensar em utilizar este processo para economizar nas radiografias. A descoberta é importante entre outras coisas para a compreensão do fenómeno dos relâmpagos. Apesar de as trovoadas serem um fenómeno relativamente comum, ainda há alguns aspectos dos relâmpagos por explicar. A descarga eléctrica numa trovoada não se propaga até ao solo de forma simples, mas executa uma série de passos, cada um deles com emissão de raios-X (ref 2). Ao conseguir reproduzir as características do fenómeno num laboratório os cientistas passam a poder conduzir estudos detalhados e em condições controladas do fenómeno.

Referências
(ref 1) Dwyer J. R. et al. Geophys. Res. Lett., 32. L20809 (2005).
(ref 2) Dwyer J. R. et al. Geophys. Res. Lett., 32. L021782 (2005).

domingo, outubro 30, 2005

O macaco das Flores

A história do pequeno hominídeo da ilha das Flores (na Indonésia e não nos Açores), Homo floriensis, ganhou contornos algo divertidos com a proposta de um antropólogo holandês, Gert van den Bergh, de que se trataria de um quadrúpede. O artigo que surgiu na revista de divulgação Natuur Wetenschap & Techniek, e do qual uma imagem e texto em inglês podem ser encontrados aqui, baseia a hipótese em detalhes da cabeça do úmero do exemplar LB1. Comentários, feitos por membros da equipa que fez a descoberta inicial, no blog de Carl Zimmer, rejeitam completamente essa visão do "hobbit". É pena, confesso que me agradava a ideia de um membro do género Homo, capaz de fabricar utensílios de pedra e de utilizar o fogo, mas tão longe das características que tendemos a associar com o ser humano: o cérebro volumoso e a locomoção bípede.

Sita sings the blues

Não tem a ver com ciência, mas não deixa de ser algo de fantástico. Nina Paley, uma americana que desenha tiras de banda desenhada diárias para jornais, resolveu enveredar pela mitologia indiana. A história que escolheu, tirada do Ramaiana, conta as desventuras de Sita, a encarnação terrena da deusa Lakshmi, personificação da castidade e da pureza. Sita, casada com Rama, personificação do deus Visnu, guerreiro e herói, é raptada por demónios, salva por Rama, abandonada por ele, acabando por voltar ao seio da Terra. Nina Paley, fruto de provações de índole pessoal que têm a ver com a sua passagem pela Índia, resolveu adaptar o mito indiano mas tendo como fundo musical os blues de Annette Hanshaw, uma cantora famosa por volta de 1920. A autora colocou em linha capítulos da animação que podem ser descarregados gratuitamente. Os desenhos são estilizados e belíssimos, as músicas acabam por ficar no ouvido, e o resultado é qualquer coisa de sublime.